Rosana de Souza
São Paulo, SP
Eis o conselho que dou aos meus pacientes:
SE O PIERCING ORAL FOSSE LEGAL PARA O PACIENTE O DENTISTA MESMO COLOCAVA!
Mas o acessório conquistou espaço entre os adolescentes, no Brasil, a partir dos anos de 1990. E normalmente um só não basta: o jovem coloca vários espalhados pelo corpo. De uns anos para cá, um dos locais preferidos pelos amantes desse adorno tem sido a boca.
Muitos adolescentes colocam piercing ou fazem tatuagem para se destacar no grupo ou definir traços de sua personalidade.
... EXISTEM RISCOS COM USO DO PIERCING ORAL
INFECÇÃO: a boca contém milhões de bactérias que podem causar infecções depois da fixação de um piercing oral, já que o adorno altera a flora bacteriana.
SANGRAMENTO PROLONGADO: caso um vaso sangüíneo seja perfurado durante a colocação, pode haver forte sangramento e hemorragia.
DOR E INCHAÇO: são sintomas comuns no usuário de piercing na boca. Em casos mais sérios, a língua pode inchar muito, comprometendo, dessa forma, a passagem de ar e a respiração.
DENTES DANIFICADOS: o contato com o adorno pode danificar o dente, por causa do atrito excessivo. Dentes com restaurações — coroas ou jaquetas, por exemplo — também podem ser prejudicados pelas peças de metal.
FERIMENTO NA GENGIVA: o piercing pode ferir o tecido da gengiva, que é sensível, e causar retração gengival. O problema torna os dentes mais vulneráveis às cáries e à periodontite.
INTERFERÊNCIA ORAL: o acessório aumenta a produção de saliva, impedindo a pronúncia correta das palavras, além de dificultar a mastigação.
DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: com a perfuração, a pessoa fica mais suscetível a doenças, como a aids, se tiver o contato com portadores da doença, por meio do sexo oral ou beijo.
ENDOCARDITE: o piercing oral pode causar inflamação das válvulas e dos tecidos cardíacos. A ferida causada pela perfuração facilita a entrada de bactérias na corrente sangüínea, podendo, inclusive, chegar ao coração.
FURO IRREVERSÍVEL: ao retirar o piercing, a perfuração formará uma fibrose, só eliminada com cirurgia plástica.
Em recente publicação na revista da Clínica Mayo de Rochester (USA), o piercing bucal foi relacionado à endocardite infecciosa (infecção no coração). Num outro trabalho realizado na Alemanha, com 273 pessoas portadoras de piercings na boca, foram verificadas alterações bucais em 60% dos casos. A revista odontológica americana JADA, uma das publicações de maior credibilidade no mundo, relacionou o piercing bucal com hepatite B, C, D e até a aids. Já a Escola de Odontologia de Nova Jersey publicou na revista General Dentistry um artigo afirmando que o piercing bucal aumenta o risco de câncer na boca, devido aos traumas que pode causar na mucosa.
Portanto se o paciente insiste na colocação, ou uso do piercing bucal, aí seguem algumas orientações para tentar evitar problemas:
É importante saber diferenciar o piercing bucal do piercing no dente. No primeiro caso, o acessório é colocado após a perfuração da mucosa dos lábios, das bochechas ou da língua. É confeccionado em ouro, aço cirúrgico ou titânio, materiais que apresentam boa compatibilidade, o que não impede ‘efeitos colaterais’ após a sua colocação, que geralmente é feita nas lojas que vendem o produto.
Já o piercing dental — um pequeno strass ou lasca de metal brilhante (como o ouro ou o aço) — é colado na face externa do dente. E somente um dentista pode fixá-lo, utilizando, para tanto, uma cola especial compatível com o dente.
Existe um consenso entre os pesquisadores que os estabelecimentos destinados aa colocação do piercing deveriam passar por inspeções e fiscalização, podendo atuar unicamente mediante licença ou alvará.
Os colocadores de piercing deveriam receber instruções para minimizar os riscos a que expõem o usuário e alertá–los sobre possíveis complicações.
E nós dentistas devemos considerar os danos causados pelos piercings, pois podemos ser solicitados para tratamento dos mesmos.
REVISTA VIVA SAÚDE -Edição 55 - Novembro/2007
Canto, G. L., et al.. Piercing bucal: O que os dentistas devem saber. Ver. APCD, p. 348 –349, set/out 2002.
Boardman, R., Smith, A. Dental implications of oral piercing. Oral Health, p. 23 – 31, oct 1997.
DRA ROSANA DE SOUZA www.drarosana.com
21 ANOS DE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Graduada em odontologia
Pós-Graduação em Ortopedia Funcional dos Maxilares e Ortodontia... Leia mais
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