Passo a Passo do Protocolo Clínico de Retentores Reforçados com Fibra de Vidro: Da Cimentação Adesiva Química ao Preparo de Coroa Total

  Caso clínico, 21 de Jan de 2014

Resumo

Dentes tratados endodonticamente são mais enfraquecidos quando comparados com dentes hígidos principalmente pela destruição coronal da cárie dentária, fraturas, restaurações anteriores e acesso endodôntico. A reabilitação de dentes tratados endodonticamente com redução de 50% ou mais da altura total da coroa clínica é requisitada por meio da indicação prévia de retentores intra-radiculares.1

Dentre os retentores intra-radiculares destaca-se a eficiência de núcleos moldados e fundidos, por sua adaptação no interior do canal radicular e simplicidade técnica de confecção e cimentação. Nas últimas décadas, os sistemas de retentores pré-fabricados têm sido desenvolvidos e tornaram-se opção clínica na reabilitação de dentes com extensas destruições da porção coronária do elemento dental. Nesta opção há necessidade de reconstrução da porção coronária com material polimérico e o uso de resinas compostas micro ou nano híbridas torna-se necessário. Estes retentores são divididos em pré-fabricados reforçados com fibra e pré-fabricados metálicos. Os últimos apresentam a desvantagem de não mimetizar mecanicamente a estrutura dentinária e não apresentam interação química com a interface adesiva e com o núcleo de preenchimento de resina composta. Estes fatores associados com a retenção mecânica rosqueável na dentina favorecem fraturas catastróficas radiculares (Figura 1).

O uso de retentores reforçados com fibra de vidro permite a reabilitação de raízes enfraquecidas estruturalmente, devido principalmente a formação de interface adesiva com a dentina, 2 e comportamento biomecânico similar a dentina radicular permitida pela interface polimérica pino/adesivo/cimento/dentina.3,4 Devido a variedade de materiais poliméricos e criticidade da técnica adesiva, o protocolo de adesão destes retentores são diversificados na literatura. No entanto, a qualidade de hibridização da estrutura dentinária, verificação constante da qualidade de energia luminosa dos aparelhos foto-ativadores e tratamento correto da superfície do pino de fibra são fatores fundamentais para o sucesso da retenção adesiva e longevidade clínica da restauração.4-6 Há diversas opções de agentes fixadores adesivos, divididos em foto-ativáveis, quimicamente ativáveis e duais. A intensidade de energia luminosa mínima para foto-ativação segura de cimentos resinosos foto-dependentes é de aproximadamente 850 mW/cm2.4 Os aparelhos LED’s de primeira e segunda geração, e lâmpadas hálógenas com longo período de uso não atingem esta intensidade luminosa. Nestes casos, a manutenção periódica dos aparelhos foto-ativadores é necessária e a cimentação com agentes adesivos e cimentos resinosos totalmente químicos é opção clínica.

O objetivo deste estudo deste relato de caso é destacar as etapas principais da fixação de retentores pré-fabricados reforçados com fibra, enfatizando as etapas de cimentação química, independente de foto-ativação e construção do núcleo de preenchimento com resina composta.

Caso Clínico

Paciente M.A.S., gênero feminino compareceu a clinica integrada de graduação do Hospital Odontológico, Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia, relatando a queda do sistema de retentor metálico-fundido e coroa metalo-cerâmica do elemento 12. Na Figura 2 observa-se o aspecto inicial do elemento 12 com redução extensa da porção coronária. Observa-se enfraquecimento das paredes proximais e manchamento radicular, consequência de múltiplas substituições empregando núcleos metálicos fundidos. Indicou-se a reabilitação deste elemento empregando cimentação totalmente química de retentor reforçado com fibra de vidro e reconstrução coronária com resina composta para confecção de preparo para coroa total. Foi realizado preparo do conduto radicular para pino Exacto n. 2 (Angelus Ind., Londrina, Paraná, Brasil) translúcido, utilizando broca do Sistema Exacto em baixa rotação. Observe a manutenção de aproximadamente 5,0mm de guta-percha no terço apical. Prova clínica do pino após isolamento absoluto (Figura 3).

Foi realizado condicionamento da estrutura dentinária com ácido fosfórico 37% (Angelus) por 15s. Injetar o ácido fosfórico iniciando na porção mais profunda radicular reduzindo as chances de bolhas (Figura 4). Posteriormente, foi aspirado o excesso de ácido fosfórico com sugador endodôntico, lavar interna e externamente com água empregando seringa endodôntica durante pelo menos 15s. Remover excesso de umidade com cones de papel absorvente. Observe com atenção a extremidade dos cones para detectar remanescentes de ácido fosfórico (Figura 5). Na sequência aplicou-se com micro-brush o Primer do Sistema Adesivo Fusion Duralink (Angelus). Aguardou-se 60s para evaporação do solvente, removendo os excessos de primer com cone de papel absorvente. Em seguida aplicou-se, com outro micro-brush, o Catalizador do Sistema Adesivo Fusion Duralink (Angelus). Os excessos foram removidos com cone de papel absorvente. Aguardou-se 4min para reação de polimerização da camada adesiva (Figura 6). Neste intervalo de 4 min realizou-se tratamento da superfície do pino de fibra de vidro com o protocolo descrito a seguir, objetivando a exposição superficial de maior quantidade de fibra de vidro sem o comprometimento estrutural do pino:4

1) Imersão em Peróxido de Hidrogênio 24% por 60s

2) Lavagem por 60s com spray ar/água

3) Secagem

4) Aplicação de Silano (Angelus) – aguardando 60s de volatilização total

5) Aplicação de camada de Adesivo Fusion Duralink na porção coronária do pino– Fotoativação por 40s

Foi manipulado o cimento de presa química ,seguida de inserção do cimento com lima, espalhando nas paredes do conduto radicular. Inserção do pino de fibra envolvido com cimento resinoso. Remoção dos excessos de cimento com micro-brush (Figura 7). Na Figura 8 observa-se a reconstrução da porção coronária com resina composta nano-híbrida Ice (SDI Ind., Austrália) cor OA2. Inserção incremental envolvendo o remanescente dental e retentor, planejando geometria do preparo para coroa total e opacificando a base escura da raiz. Fotoativação de cada incremento de resina composta por 40s.

Na Figura 9 pode-se visualizar o aspecto inicial e aspecto final do preparo para coroa total. Neste momento cabe ao profissional a adequação do preparo de acordo com o tipo de material constituinte da coroa total, ou seja, infra-estrutura metálica empregando pontas diamantadas 2214 e 2215, ou infra-estrutura de cerâmica reforçada empregando pontas diamantadas 2135 e 4138.

Referências

1. Ross IF. Fracture susceptibility of endodontically treated teeth. J Endod 1980; Mar,6(1):560-5.

2. Soares CJ, Soares PV, de Freitas Santos-Filho PC, Castro CG, Magalhaes D, Versluis A. The influence of cavity design and glass fiber posts on biomechanical behavior of endodontically treated premolars. J Endod. 2008 Aug;34(8):1015-9.

3. Menezes M, Queiroz EC, Soares PV, Faria-e-Silva AL, Soares CJ, Martins LR. Fiber post etching with hydrogen peroxide: effect of concentration and application time. J Endod. 2011 Mar;37(3):398-402

4. Schwartz RS, Robbins JW. Post placement and restoration of endodontically treated teeth: a literature review. J Endod 2004; Oct,30(2):289-301.

5. Faria e Silva AL, Casselli DS, Ambrosano GM, Martins LR. Effect of the adhesive application mode and fiber post translucency on the push-out bond strength to dentin. J Endod 2007;Apr,33(3):1078-81

6. Silva NR, Castro CG, Santos-Filho PC, Silva GR, Campos RE, Soares PV, Soares CJ. Influence of different post design and composition on stress distribution in maxillary central incisor: Finite element analysis. Indian J Dent Res. 2009 Apr-Jun;20(2):153-8.

Autores

Prof. Dr. Paulo Vinícius Soares

C.D. Fabrícia Araújo Pereira 

C.D. Lorraine Vilela de Souza 

C.D. Giovana Milito 

C.D. Bruno Rodrigues Rei

Colaboração

C.D. João Vitor Soares

C.D. Michelle Pereira Costa Mundim

Resumo do caso clínico

Fotos do caso

Conclusão

Pode-se concluir que a hibridização da estrutura dental e cimentação adesiva totalmente química são opções reabilitadoras relevantes em situações clínicas onde o fator profundidade e qualidade da unidade ativadora influenciam negativamente na qualidade de união da interface pino/cimento/dentina radicular.

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