Atuação do Cirurgião Dentista nas Equipes Multiprofissionais Que Atuam nas Unidades de Terapia Intensiva

  Artigo, 19 de Mar de 2012

Os pacientes que estão hospitalizados em unidade de terapia intensiva precisam de cuidados rigorosos na sua fisiopatologia, pois eles têm uma imunodeficiência que leva a várias infecções e piora do estado de saúde (ARAÚJO et al. 2009).

Em uma unidade de terapia intensiva a equipe que trabalha visando à saúde do paciente é composta por médico, enfermeiro, fisioterapeuta e técnico em enfermagem, porem em estudos mostram que essa equipe não esta perfeitamente completa, faltando à presença de um cirurgião dentista para cuidar da cavidade bucal dos pacientes (MORAIS et al. 2006).

Um projeto de Lei nº561/09 diz obrigatória a presença de profissionais de odontologia nas unidades de terapia intensiva, em todos os hospitais públicos e privados para cuidados de saúde bucal. (RAFAGNIN, 2009)

Muitas pesquisas documentam que pacientes admitidos nas unidades de terapia intensiva possuem higiene bucal de menor qualidade do que os pacientes não hospitalizados e tem maior prevalência de colonização de patógenos respiratórios em seus dentes e mucosa bucal. (ARAÚJO et al,2009)

Em pacientes muito doentes, bactérias presentes na cavidade bucal, predominante, gram-positivas, podem passar a ter características anaeróbicas gram-negativas, uma vez que microorganismos que colonizam a cavidade bucal destes pacientes são virulentos comparados com organismos presentes naturalmente, conseqüentemente o risco de infecção é elevado proporcionando respostas não satisfatória a invasão de bactérias aos pulmões. (JENKIS, 1989).

Morais et al.(2006) diz que a colonização de bactérias sem a higiene bucal pode acarretar em vários problemas, causando não apenas gengivites ou doenças periodontais, mas infecções mais graves como pneumonia nosocomial ( Hospitalar).

O biofilme forma-se sobre as superfícies imersas em meio aquoso natural e particularmente de maneira rápida em sistemas fluidos em que fontes regular de nutrientes são fornecidos as bactérias. (LANG; MOMBELLI; ATTSTROM, 2005). A quantidade de biofilme em pacientes aumenta com o tempo de internação paralelamente também ocorrem aumentos de patógenos respiratórios que colonizam o biofilme bucal (SCANNAPIECO, 2002 ).

Com toda a colonização bacteriana presente na cavidade bucal, pode ser disseminada para outras partes do organismo com os procedimentos hospitalares feitos por médicos como a entubação através de ventilação mecânica, que leva bactérias da boca e da orofaringe até os pulmões ( MORAIS et al. 2006)

A colonização da orofaringe por microorganismos gram-negativos, de pacientes entubados ocorre nas primeiras 48 a 72 horas após admissão na UTI e alcançam os pulmões através das secreções bucais que vazam pelos lados do tubo traqueal. (SCANNAPIECO e ROSSA, 2004)

Com a presença das periodontopatias, influenciam nas infecções respiratórias, em maioria destaque a pneumonia. A pneumonia é uma infecção debilitante, em especial aos pacientes imunocomprometidos. Nos hospitais os pacientes mais vulneráveis a esta importante infecção são os internados em unidades de terapia intensiva, em especial os que estão sob ventilação mecânica, aumentando 20% a 25% dos pacientes, com as taxas de mortalidade podendo chegar até 80%(SCANNAPIECO e ROSSA, 2004)

A pneumonia nosocomial ocorre com a invasão bacteriana, especialmente bastonetes gram-negativos no trato respiratório inferior por meio da aspiração de secreção presente na orofaringe, por inalação de aerossóis contaminados ou com menos freqüência, por disseminação hematogênica, originada de um foco a distância. O mais comum de adquirir a pneumonia nosocomial é através da aspiração do conteúdo da orofaringe. A odontologia deve se unir a medicina em busca de resultados positivos para diminuir a pneumonia, uma vez que a forma mais comum de adquiri-la é por meio da respiração do conteúdo da boca e faringe (FOURRIER; DUVIVIER; BOUTIGNY, 1998).

Uma vigilância sobre os patógenos potenciais, a identificação dos pacientes de risco, um grupo preparado para orientação, lavagem das mãos, uso de gorros e luvas de proteção tiveram impacto positivo na redução da incidência de Pneumonia. Por esta razão, deve ser considerada uma atenção adicional para com a higiene bucal (RAGHAVENDRAN e MYLOTTE, 2007).

Estudos científicos mostram que bactérias que causam pneumonia nosocomial colonizam o biofilme dental e a mucosa bucal, e de acordo com o tempo de internação o aumento do biofilme é maior podendo causar problemas maiores. Para evitar o acúmulo e o aumento do biofilme dental deve ser feita uma higienização da cavidade bucal. Os profissionais responsáveis pela higienização da UTI é o técnico de enfermagem, que não tem conhecimento da importância da limpeza bucal, ocorrendo assim uma higienização incompleta. O principal material usado para fazer a limpeza da cavidade bucal é a clorexidina, que é o agente mais efetivo para o controle do biofilme, ela apresenta boa substatividade, pois absorve as superfícies orais mostrando efeitos bacteriostático até 12 horas após a utilização. (PEREIRA e D’OTTAVIANO, 2010)

Westphal e Leitão (2008) desenvolveram um estudo sobre Avaliação dos protocolos de higiene bucal nas unidades de terapia intensiva de hospitais públicos e privados, concluíram que os métodos de higiene bucal mais usados em pacientes internados foram: a escovação com creme dental e colutório, e para os pacientes submetidos à ventilação mecânica foi o uso de swab. O colutório mais utilizado é o cloreto de cetilperidino para a higiene bucal dos pacientes internados e intubados. Portanto, é essencial a implementação de protocolos de higiene bucal na rotina hospitalar, visto que é um método eficaz na prevenção da pneumonia nosocomial e associada à ventilação mecânica.

O paciente deverá ter uma higiene bucal adequada mesmo na ausência de dentes, é sugerido massagens para fortalecer as gengivas e a lavagem das próteses para remoção dos detritos (BERRY et al. 2006). A prevenção e a promoção de saúde bucal em UTI é destacada por meio de protocolos elaborados de acordo com as necessidades individuais dos pacientes internados em UTIs, recomendando a remoção mecânica da placa nos indivíduos dentados e desdentados (ERICKSON, 1997).

Quadro 1 – Procedimentos adequados de higiene oral para pacientes dependentes segundo Diretrizes de Normas e condutas da Área da saúde do serviço de odontologia do HC Unicamp. (PEREIRA e D’OTTAVIANO 2010)

Condição Oral

Condição Paciente

Procedimento de Higiene

  • Dentado,
  • Desdentado parcial
  • Desdentado total
  • Pacientes com impossibilidades motoras
  • Pacientes com intubação traqueal ou traqueostomia, submetidos ou não à ventilação mecânica

Higiene realizada por um cuidador ou pela enfermagem com

  1. Escovas comuns ou escovas elétricas, Escovação dentária conforme a técnica de Bass modificada, com ou sem creme dental, em pacientes dentados. (pacientes desdentados total, inicia-se no item 2)
  2. Escovação da língua;
  3. Lavagem com água filtrada;
  4. Aspiração do excesso de líquidos;

Aplicação de espátula com gaze, embebidos em solução de gluconato de clorexidina a 0,12%, sobre toda a mucosa bucal, gengivas, dentes, língua e palato;Aspirar o excesso sem enxaguar.

  • Dentado,
  • Desdentado parcial
  • Desdentado total
  • Pacientes com intubação traqueal ou traqueostomia, submetidos ou não à ventilação mecânica

Umidificação da cavidade bucal: Passar as espátulas com gaze molhadas nas gengivas, língua e palato; aspirar secreções e excesso de água. Hidratar os lábios com loção de ácidos graxos

Os protocolos emitidos pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda que se desenvolvam e implementem programas de higiene bucal. A adoção de protocolos integrados de prevenção e tratamento multidisciplinar nos pacientes de UTI é essencial. Isso deve ocorrer especialmente em pacientes portadores de doença periodontal por representar

uma carga infecciosa e inflamatória significativa e servir de reservatório crônico para transferência de bactérias e/ou produtos do seu metabolismo.(TABLAN et al. 2003).

Uma pesquisa desenvolvida por Araujo et al, (2009) encontrou resultados, os quais sugerem que os cuidados de higiene bucal realizados nos pacientes hospitalizados em unidades de terapia intensiva são escassos e inadequados, sendo necessárias modificações nos cuidados dispensados atualmente, especialmente no ambiente da equipe de atenção ao paciente, concluíram que as equipes de enfermagem estudadas pouco conheciam a respeito dos métodos de controle de biofilme, responsável pelas principais patologias bucais e dos diversos produtos que podem ser utilizados na higiene bucal;Os recursos disponíveis nos hospitais visitados pelos pesquisadores são escassos e impróprios, impossibilitando a manutenção da saúde oral e dificultando o controle de infecções bucais já instaladas;De acordo com as respostas recebidas, os profissionais entrevistados não receberam formação adequada para realizar procedimentos de cuidados bucais.

Para Morais et al (2006), entre os obstáculos frequentemente enfrentados pelo cirurgião dentista para integrar equipes multidisciplinar em UTI, esta a baixa prioridade do procedimento odontológico diante de numerosos problemas apresentados pelo paciente.

A orientação deve ser estendida a todos os diferentes segmentos da equipe interdisciplinar, pois esta prática, de caráter fundamental na odontologia preventiva, evita que o contato com os profissionais da área odontológica ocorra tardiamente. Pacientes, familiares, médicos, corpo de enfermagem, cuidadores e outros membros da equipe envolvida necessitam da higiene bucal periódica principalmente no caso de condições debilitantes sistêmicas se agravarem. (IACOPINO,1997)

Justificou-se este estudo pela importância que a odontologia tem integrando-se ao atendimento dos pacientes hospitalizados nas unidades de terapia intensiva, minimizando os problemas bucais e mantendo a higienização dos dentes, gengiva, bochecha e língua, para que a colonização intensa de patógenos não contribua para a piora do quadro clínico. Além disso, ampliando o campo de ensino e atuação do cirurgião dentista na prevenção e atendimento odontológico ao paciente hospitalizado.

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Autora

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Cristhiane Amaral

Odontopediatra e Opne

 Presidente Prudente, SP

Professora da Universidade do oeste Paulista - Unoeste

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