Células-Tronco em Implantodontia, um Mito Ou uma Realidade?

  Artigo, 12 de Set de 2013

“ Células-Tronco em Implantodontia – Estágio Atual ”

Células-tronco em Implantodontia, um mito ou uma realidade? Por que se dedicar incansavelmente na busca de resultados e de respostas nessa linha de pesquisa?

Muitas vezes, por paixão à pesquisa e aos estudos, acabamos nos aprofundando tanto em mistérios e descobertas na ciência que acabamos esquecendo do princípio das coisas e do real motivo e combustível para busca de respostas e, com isso, obter novas descobertas.

Em muitas situações de nossas vidas, buscamos alcançar sonhos, atingir metas e, com isso, conquistar objetivos traçados. O conhecimento mais profundo sobre determinado assunto faz com que possamos executar cada vez melhor aquilo que amamos fazer e proporcionar o melhor aos nossos pacientes. Porém, somente a incessante pergunta, a constante dúvida e o estímulo de descobrir algo ainda obscuro, cruzando fronteiras nunca antes transpostas faz manter acesa a chama da ciência e o prazer absoluto de tentar fazer parte de uma história, participar de algo que possa vir a mudar de alguma forma a conduta padrão na área médica e, consequentemente, a vida de milhares de pessoas que poderão se beneficiar com essas mudanças.

Foi esse o motivo que fez com que nós, autores do Livro “Células-tronco em Implantodontia”, dedicássemos anos de nossas vidas procurando responder dúvidas que poderiam, de alguma forma, beneficiar a vida das pessoas que estão enfrentando um complexo problema odontológico estético e funcional em suas vidas.

A instalação de Implantes Osseointegrados é algo consagrado na Odontologia; substituir um dente perdido se tornou algo mais simples do que outrora e a qualidade tecnológica desses implantes faz com que esse tipo de cirurgia atinja um alto nível de sucesso. Portanto, na atualidade, a grande dificuldade que os profissionais dessa área encontram não é mais osseointegrar implantes e sim regenerar, até mesmo reconstruir o leito ósseo receptor desses implantes que se encontram, na maioria das vezes, atróficos ou até mesmo mutilados. Essas cirurgias de reconstruções ósseas nem sempre são tão previsíveis e, em muitos casos, nada confortáveis aos pacientes que enfrentam problemas funcionais, estéticos e estão psicologicamente abalados com a sua situação.

Visando o melhor conforto e o mínimo de morbidade a esses pacientes buscamos, incansavelmente, repostas por meio da terapia celular. Dessa forma, procedimentos menos invasivos - com menos trauma e com redução de custos -, podem beneficiar todos que precisam desse tipo de cirurgia previamente à instalação dos implantes osseointegrados.

Todos os autores deste livro concordam que a enxertia óssea autógena é o método reconstrutivo padrão ouro, sendo um material completo em todas as suas propriedades para estar preenchendo uma região mutilada ou com atrofia óssea, que impede a instalação dos implantes osseointegráveis. De outra forma, a terapia celular utliliza os benefícios de céluas-tronco para incrementar materiais de enxertia sintéticos, xenógenos ou homólogos com intuito de apresentar uma combinação “padrão diamante“ em Odontologia, transformando um material primariamente osseocondutor em um substituto ósseo com todas as propriedades e qualidades da enxertia óssea autógena, sem a morbidade e as complicações apresentadas nessas cirurgias.

O material ideal para enxertia deve apresentar excelente quantidade de células viáveis osteocompetentes como células mesenquimais multipotentes e osteoblastos para serem transferidas ao leito receptor do enxerto ósseo. O enxerto de osso autógeno medular apresenta osteócitos, osteoblastos, osteoclastos, fibrina, plaquetas, leucócitos e hemácias, enquanto o local receptor fornece vascularização e células ao enxerto.

Os fatores locais e sistêmicos interagem com o potencial genômico das células-tronco para determinar a sua progressão até as células altamente diferenciadas, como os condrócitos e osteócitos. As céluas-tronco mesenquimais, sendo células mesenquimatosas indiferenciadas, dão origem a vários tipos de células, e o processo de diferenciação depende dos estímulos oriundos do meio.

Dessa maneira, segue-se a busca para utilização de algum biomaterial que pudesse substituir o osso autógeno na técnica de reconstrução do rebordo ósseo, proporcionando uma estrutura adequada para instalação dos implantes. Como a maioria dos substitutos ósseos indicados como material de enxertia servem somente como arcabouço, não apresentando a devida celularidade e sinalização para serem utilizados com propriedades osteogênicas/osteoindutoras, o grande desafio para os pesquisadores das diferentes áreas de regeneração óssea é conseguir incrementar esses substitutos ósseos com células viáveis e fatores de crescimento para que esse material apresente características próximas àquelas apresentadas pelo osso autógeno, maximizando os resultados regenerativos.

A medula óssea adulta apresenta céluas-tronco hematopoiéticas e mesenquimais. As céluas-tronco hematopoiéticas são responsáveis pela renovação dos elementos sanguíneos circulantes e as céluas-tronco mesenquimais têm o potencial de se diferenciarem em diferentes linhagens relacionadas aos tecidos mesenquimais e, na literatura, os primeiros indícios de que a medula pode formar osso remonta há mais de cem anos (Goujon, 1869).

A associação do aspirado de medula óssea com algum tipo de biomaterial pode ativar a capacidade do corpo de formar novo osso, de forma que são criadas novas propriedades e características à esse enxerto decorrente dessa associação. A técnica de aspiração da medula óssea é muito simples, rápida, apresenta mínimo risco de infecção, não necessita de internação, incisão, sutura ou técnicas anestésicas mais profundas. Além disso, é muito menos invasiva do que a coleta de osso autógeno de um segundo local cirúrgico, oferecendo resultados previsíveis e com baixo custo.

O aspirado de medula óssea autóloga (Fig. 1), associado a algum tipo de matriz reabsorvível, tem propriedades para simular osteoindução, osteocondução e osteogênese, pois as células-tronco adultas povoam o enxerto com osteoblasto.

A célula tronco mesenquimal presente na medula óssea é uma célula que contém apenas um núcleo (célula mononuclear) e, portanto, após um procedimento de separação da fração de células mononucleares da medula óssea, torna-se possível coletar um concentrado destas células (Fig. 2), maximizando os resultados dos enxertos com biomateriais.

Além da medula óssea, o tecido adiposo também apresenta excelente quantidade e qualidade de céluas-tronco mesenquimais adultas que podem dar origem a neoformação óssea, apresentando potenciais osteogênicos e osteoindutores e tendo importante papel na incrementação do processo de enxertia em regeneração óssea, quando associado a um biomaterial, que servirá de arcabouço osteocondutor.

O grande entusiasmo na continuidade das pesquisas com células viáveis que incrementam os enxertos não autógenos parte do princípio da grande rejeição por parte dos pacientes com relação à técnica de enxertia autógena, especialmente pelo reconhecimento da extrema morbidade pós-operatória na região doadora. Tanto estudos em modelo animal como em humanos vêm demonstrando a grande capacidade da terapia celular em melhorar o desempenho dos biomateriais substitutos da enxertia óssea autógena. As figuras abaixo ilustram um pós-operatório de 6 meses de um procedimento de enxertia óssea homóloga com (Figura 3a) e sem associação à terapia celular (Figura 3b). Além da evidente diminuição da perda de volume, soma-se um considerável aumento da qualidade óssea avaliada histologicamente (Figura 4).

Dessa forma, a despeito dos avanços já alcançados, precisamos reconhecer que temos ainda uma longa estrada pela frente, numa busca incessante por algo novo que possa, cada vez mais, beneficiar os pacientes com tratamentos menos invasivos e que apresente alto índice de sucesso e previsibilidade. 

Autores:

PROF. DR. ANDRÉ ANTONIO PELEGRINE

Pós-Doutor em Cirurgia Translacional Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Doutor em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Mestre em Implantodontia pela Universidade de Santo Amaro – UNISA

Professor de Implantodontia da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic - Campinas

Coordenador do Curso de Mestrado em Implantodontia e Especialização em Reabilitação Oral da Faculdade São Leopoldo Mandic - Campinas

PROF.DR. EDUARDO SORGI

Pós-Doutorando em Imunologia e Biologia Molecular pela Faculdade São Leopoldo Mandic - Campinas

Doutor em Ciências Médicas pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Mestre em Implantodontia pela Universidade de Santo Amaro – UNISA

Professor do Curso de Mestrado em Implantodontia e Especialização em Reabilitação Oral da Faculdade São Leopoldo Mandic - Campinas

PROF. DR. ANTONIO CARLOS ALOISE

Pós-Doutorando em Cirurgia Translacional Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Doutor em Ciências Médicas pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Professor do Curso de Mestrado em Implantodontia da Faculdade São Leopoldo Mandic - Campinas 

Fotos do artigo

Envie seu comentário

Cadastre-se grátis e opine sobre este artigo.

Autora

Veja mais

São Leopoldo Mandic

Instituição de Ensino

 Campinas, SP

A Faculdade São Leopoldo Mandic, credenciada pelo Ministério da Educação, oferece Graduação e Pós-graduação nas áreas de Odontologia e Medicina, sendo reconhecida... Leia mais

Pesquisar produtos

Veja mais no Catálogo

Você é dentista?

Crie seu perfil para interagir com São Leopoldo Mandic e mais 160 mil dentistas.

Conecte-se com Facebook