Sono, Sonhos e Distúrbios do Sono

  Artigo, 12 de Fev de 2011

Fausto Ito (CD) e Thereza Cristina Ribeiro (Psicóloga).

Uma noite de sono tranquilo é fundamental para o aprendizado, raciocínio, criatividade e sedimentação de conhecimentos. No entanto, o descanso vem sendo reduzido em detrimento do “alto rendimento profissional” e do apelo crescente pela internet.

SONO

Desde a era industrial as horas de sono diminuíram gradativamente ao passo que a obesidade e enfermidades cardiocirculatórias se consolidaram como problemas graves de saúde pública. A relação entre sono e doenças insuspeitadas anteriormente está cada vez mais evidente quando observamos o estilo de vida da nossa população, o descanso cada vez mais reduzido em detrimento do “alto rendimento profissional” e o apelo crescente pela internet. Será que é ilusão ou ainda há um alto grau de desinformação ao supormos que continuaremos a ter o mesmo desempenho nas nossas funções diurnas, uma vez que insistimos em ignorar a necessidade e a importância do sono em nossas vidas? Vejamos alguns detalhes a respeito do assunto.

O sono é um processo dinâmico, vital para a saúde e depende do equilíbrio psíquico, neurológico e hormonal. A sua estrutura é composta de 5 fases: estágios 1, 2, 3 e 4 do sono de ondas lentas ou NREM (sem movimentos oculares rápidos) e sono REM (com movimentos oculares rápidos). Para considerarmos o sono reparador é preciso que, ao longo da noite, ocorra de quatro a seis passagens em cada uma dessas fases, sendo necessários cerca de 70 a 120 minutos para completar cada ciclo. O sono REM, conhecido também como sono dos sonhos, é importante para o aprendizado, raciocínio, criatividade e sedimentação de conhecimentos. É fato que as pessoas necessitam de quantidades variáveis de horas de sono, porém o mais importante é a qualidade dessas horas dormidas e, consequentemente, se esse sono será capaz de restabelecer física e psiquicamente a pessoa para o dia seguinte.

DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO

No processo respiratório normal durante o sono, os músculos da garganta a mantêm aberta para que o ar chegue até os pulmões e a homeostase seja mantida. Um evento de apneia obstrutiva ocorre quando, devido ao relaxamento muscular, a boca se abre e a língua desliza em direção a garganta impedindo a passagem de ar por períodos curtos de tempo. Essas interrupções repetitivas da respiração ao longo da noite fragmentam o sono, ou seja, não permite que a pessoa atinja o sono profundo e prejudica a oxigenação sanguínea dos tecidos do corpo. As repercussões clínicas podem ser objetivas e subjetivas e constituem um fator alarmante no desenvolvimento de problemas físicos, com aumento da pressão, arritmias e maior predisposição para infarto; psicossociais, por desajustes nos padrões emocionais, sexuais, trabalhistas e familiar, principalmente, entre os cônjuges. Trata-se de uma condição complexa que requer equipe multidisciplinar, tanto no diagnóstico, por meio de polissonografia, quanto no tratamento. Os sinais e sintomas mais frequentes da apneia do sono são ronco alto e intenso, sonolência excessiva durante o dia, sono agitado e déficits cognitivos (lapsos de memória, dificuldade de concentração e de raciocínio), além de irritabilidade persistente, cansaço crônico e mau humor. Vários fatores podem contribuir para o seu surgimento ou agravamento como a obesidade, predisposição genética, alterações anatômicas (queixo pequeno) e hormonais, idade, ansiedade e depressão. A abordagem das pessoas com distúrbios do sono deve ser sempre multiprofissional devido às causas multifatorias desses distúrbios e aos benefícios que esta visão integrada traz ao paciente. O tratamento multidisciplinar pode envolver diversos profissionais da área de saúde como médicos, dentistas, fonoaudiólogos e psicoterapeutas. É definido especificamente em cada caso, na singularidade da pessoa e consiste na compreensão das escolhas diurnas da vida que perturbam o sono e o reconhecimento das consequências nocivas que o desgaste físico e psíquico pode provocar na superação das exigências do meio ambiente. 

SONHOS - TEORIA DE FREUD

O sonho é constituído pela experiência do sujeito e de seus registros sensoriais desde a infância. Tudo que foi sensível a sua percepção está armazenado no seu inconsciente. Uma forma de retorno é o sonho. Podemos afirmar que a mente não dorme, sendo que sua atividade psíquica continua durante o sono e que a dinâmica desse processo reflete na qualidade de vida do sujeito. O sonho é a expressão “viva” do inconsciente, é um desejo que se manifesta através de dois mecanismos: deslocamento e condensação. O deslocamento é uma força psíquica atuante que concentra novos valores a partir de elementos que sejam toleráveis ao julgamento crítico (censura) do sujeito. Sendo assim, ocorre uma transferência e um deslocamento de intensidade psíquica no processo de formação do sonho. A condensação é outro mecanismo do sonho onde o conteúdo é expresso como se fosse um roteiro pictográfico, cujos caracteres são transpostos para a linguagem onírica, pois os sonhos são breves e apresentam uma lógica própria, daí o valor de decifrar, de interpretar o simbolismo das imagens. Uma imagem onírica desloca-se de uma cena para outra, como também concentra vários sentidos numa mesma cena. A escolha do material a ser reproduzido em sonho é o mais peculiar, pois envolve a memória em geral, sendo registrado e percebido (Freud, S. 1900 – vol. 4 – Standard Edition). Freud descreveu 4 fontes dos sonhos: excitações sensoriais externas (objetivas), excitações sensoriais internas (subjetivas), estímulos somáticos internos (orgânicos) e fontes de estímulos puramente psíquicas. As imagens mais fortes são mais facilmente lembradas, pois o material é censurado conforme a dinâmica do inconsciente do sujeito – sua vivência. Em suma: a sensibilidade de cada sujeito, como percebe, interpreta e reage aos estímulos de um modo genérico e pessoal. O relato de um sonho está vinculado ao momento emocional do sujeito com suas vivências e códigos de valores. Uma situação qualquer na vida do sujeito vai ser interpretada e sentida de maneira diferente, dependendo do contexto psicológico e de realidade inseridos.

PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DO SONO

  1. INSÔNIA - é a dificuldade de iniciar o sono ou de permanecer dormindo. Atinge cerca de 25% da população adulta, principalmente, as mulheres de meia idade. As queixas mais frequentes são a qualidade de sono ruim, como se a noite de sono não fosse suficiente ou reparadora, acordar cansado, com dores no corpo, irritado, desanimado ou mal humorado. A partir do diagnóstico correto, o tratamento da insônia poderá ser iniciado com psicólogos para resolver questões relacionadas à ansiedade, depressão, problemas familiares, profissionais. Modificar hábitos incompatíveis com sono e utilização de medicamentos tem por objetivo devolver a qualidade de vida às pessoas acometidas.
  2. NARCOLEPSIA - é um distúrbio de sono caracterizado por sonolência excessiva durante o dia em horas inadequadas, cataplexia (perda da tonicidade dos músculos) e anormalidades do sono REM. É um problema genético de difícil diagnóstico, pois pode ser confundido com outros distúrbios do sono ou interpretado como epilepsia. O tratamento é medicamentoso e comportamental. O objetivo é o controle dos sintomas para que a pessoa consiga manter as suas atividades profissional e social normais. Para amenizar a sensação de sonolência e cansaço, pode ser indicado cochilos voluntários durante o dia associado à higiene do sono.  
  3. SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS – caracteriza-se por alterações da sensibilidade e desconforto nos membros inferiores (do joelho para baixo) que geralmente ocorre no início do sono. Essa sensação desagradável pode levar a necessidade de movimentar as pernas, com consequente alívio desses sintomas. Esse distúrbio compromete a qualidade de vida devido aos movimentos involuntários que fragmentam o sono durante a noite e podem incomodar o parceiro de cama. O diagnóstico e o tratamento são simples.
  4. SONAMBULISMO – normalmente acontece na infância entre os 5 e 12 anos devido a irregularidade das fases do sono. Quando o hipotálamo – estrutura do cérebro responsável pela consciência está desativado, outra região que coordena a função motora está ativa. Quando essa situação ocorre, o sonâmbulo é capaz de falar, sentar, andar, abrir portas e janelas e ao acordar não se lembra do que fez. Não necessita de tratamento, somente medidas preventivas para evitar acidentes durante os episódios. 
  5. BRUXISMO DO SONO – é o ato inconsciente de ranger ou apertar os dentes enquanto a pessoa dorme. A força realizada sobre os elementos dentários produz um ruído específico que pode ser notado por outras pessoas. Os sintomas mais comuns são dor de cabeça, dor facial ou próximo a região dos ouvidos e desgaste da estrutura dentária (esmalte e dentina). De forma geral o diagnóstico e o tratamento são realizados pelo dentista. A indicação é o aparelho bucal confeccionado com resina acrílica que alivia os sintomas, protege os dentes e as gengivas e evita danos a articulação temporomandibular (ATM).

    REFERÊNCIAS:

    1. AMERICAN ACADEMY OF SLEEP MEDICINE. The International Classification of Sleep Disorders, 2nd Edition: Diagnostic and Coding Manual. Westchester, Il 2005. http://www.esst.org/adds/ICSD.pdf

    2. AMERICAN SLEEP DISORDERS ASSOCIATION. Practice parameters for the treatment of snoring and obstructive sleep apnea with oral appliances. Sleep, v.18, n. 6, p. 511-13, 1995.

    3. CAUTER, E. V.; LEPROULT, R.; PLAT, L. Age-related changes in slow wave sleep and REM sleep and relationship with growth hormone and cortisol levels in healthy men. JAMA, v. 284, n.7, p. 861-68, 2000.

    4. FREUD, S. Obras psicológicas completas. Edição Standard Brasileira; Rio de Janeiro: Editora Imago, 1972.

    5. ITO, F. A.; ITO, R. T.; MORAES, N. M.; SAKIMA, T.; BEZERRA, M. L. S.; MEIRELLES, R. C. Condutas terapêuticas para tratamento da síndrome da resistência das vias aéreas superiores (SRVAS) e da síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) com enfoque no Aparelho Anti-Ronco (AAR-ITO). Dental Press Ortodon Ortop Facial, v. 10, n. 4, p. 143-156, 2005.

    6. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário de psicanálise. 5. Edição; Editora Martins Fontes, 1967.

    7.      RIBEIRO, T. C.; ITO, F. A. Distúrbios do Sono – De olhos bem abertos. Revista Psique, Edição 51, p. 22-27, 2010. http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/51/artigo168446-2.asp

Vídeos do artigo

Distúrbios do Sono - Globo News
O Dr. Fausto ITO responde as perguntas dos jornalistas e esclarece as dúvidas dos telespectadores, ao vivo, sobre os distúrbios do sono no Programa Leia mais

Referências

Ronco, Apneia do Sono e Qualidade de Vida: www.roncoeapneiadosono.blogspot.com

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