A Presença de Fungos como Fator Secundário no Desenvolvimento da Periodontite

  Artigo, 29 de Jan de 2011

Revisão de Literatura

SOARES, B. L. L.

INTRODUÇÃO

No Brasil, 52% da população adulta e um pouco menos de 10% dos idosos possuem 20 ou mais dentes, e 22% da população adulta apresenta as gengivas saudáveis como condição predominante (SB BRASIL, 2003). A periodontite afeta 10% a 15% da população e estima-se que, após os 50 anos, estes indivíduos poderão perder metade de seus dentes (RITCHIE et al., 2003). Segundo dados do SB BRASIL 2003, a taxa de pessoas sem nenhuma afecção periodontal no Brasil, entre 15 e 19 anos é de 46,2%, já entre 35 e 44 anos, é de 21,9%. Na faixa etária de 65 a 74 anos, é de 6,3%. Em relação à doença periodontal grave, a porcentagem é de 1,3% entre 15 e 19 anos, 9,9% entre 35 e 44 anos e 6,3% entre 65 e 74 anos.

A periodontite é uma doença que afeta os tecidos de suporte dentário, provocando uma destruição irreversível e resultando na formação de bolsas periodontais, podendo causar perda dentária. A característica que difere a periodontite da gengivite é a perda de inserção do ligamento periodontal clinicamente detectável. Essa característica é acompanhada pela formação de bolsa periodontal, retração gengival e mudanças na densidade e altura do osso alveolar (CARRANZA et al., 2004).

Eventualmente, a periodontite pode desenvolver- se a partir de uma gengivite pré-existente em pacientes imunocomprometidos, com presença de fatores de risco (fumo e diabetes), de fatores predisponetentes inflamatórios e de uma microbiota periodonto-patogênica específica. As fases iniciais da doença podem estar associadas com a atividade de metabólitos tóxicos (enzimas e toxinas) da placa bacteriana sobre as células e a substância intercelular do epitélio do sulco gengival, que não é queratinizado (LORENZO, 2004). O aumento da população patogênica resulta em uma maior elaboração de produtos tóxicos que induzem ao incremento da resposta inflamatória (específica) e imunológica (inespecífica), contribuindo para a destruição grave dos tecidos de suporte periodontal.

A relação entre a presença de patógenos periodontais e o desenvolvimento e instalação da doença periodontal não se relaciona apenas com a quantidade desses microorganismos, mas também com a atividade sinérgica que ocorre com a combinação das atividades metabólicas das espécies implantadas. As doenças periodontais destrutivas são causadas por espécies microbianas diferentes e podem ocorrer em sítios e intervalos irregulares.

Um estudo realizado por Socransky e Haffajee (1992), classificou os microorganismos periodontais quanto à sua patogenicidade, estando no topo desta  lista o Actbinobacillus actinomycetemcomitans (atual  Aggregatibacter actinomycetencomitans - Aa), Porphyromonas gingivalis (Pg),  Prevotella intermedia (Pi) e Tannerella forsythensis (Tf)  como os periodontopatógenos com maior fator de virulência e maior poder de associação.

Acredita-se que as periodontites resultam da interação de uma microbiota complexa, do ambiente subgengival e do hospedeiro (LINDHE, 2005). Bactérias gram-positivas, organismos anaeróbios e facultativos, alem de vírus e fungos, também têm sido associados à periodontite. Vários fungos são habitantes comuns da cavidade oral, mas são mantidos em equilíbrio pela competição com bactérias e pelos mecanismos de defesa do hospedeiro. As alterações de qualquer um destes fatores podem resultar no desenvolvimento de uma infecção fúngica (DARBY, 2001). Os fatores sistêmicos que comprometem a resposta do hospedeiro podem incluir a AIDS, diabete melito, leucemia, antibioticoterapia, fatores emocionais e estresse.

PARTICIPAÇÃO FÚNGICA NO PROCESSO PERIODONTO-PATOGÊNICO.

Qualquer fungo é capaz de se desenvolver à temperatura do hospedeiro (37°C) e sobreviver em baixo potencial de óxido-redução, condição essa encontrada em tecidos danificados (RICHARDSON, 1993).  Dentre a fauna micológica que contribui para o processo periodontopatogênico, as leveduras do gênero Candida são as que apresentam maior expressão no desenvolvimento e agravamento dos processos infecciosos periodontais. Dentre todas as espécies do gênero, o C. albicans é a mais prejudicial ao ser humano, expressando sua habilidade patogênica diretamente relacionada com a condição imunológica do hospedeiro (RINALDI, 1993).

Sendo um fungo oportunista patogênico, sua presença é, na maioria das vezes, na cavidade bucal de pacientes imunocomprometidos, uma vez que nesse tipo de hospedeiro há o desequilíbrio necessário para instalação deste microorganismo.

A inter-relação entre a doença periodontal e a presença de espécimes fúngicas ainda está um tanto obscura, mas acredita-se que ocorra devido à capacidade destes microrganismos em aderir a células epiteliais in vitro e penetrar no tecido epitelial e conjuntivo provocando uma reação inflamatória (Järvensivu, 2004 e Jabra-Rizk, 2001). Martins ET AL (2002) relatou a produção de fosfolipase e proteinase por cepas de Candida. A fosfolipase é uma enzima que hidrolisa os fosfolipídeos, principais componentes das membranas celulares que compõe os tecidos (LORENZO, 2004), podendo fazer parte do processo de invasão de C. albicans, uma vez que devido à contribuição deste fungo na destruição tecidual, as chances de penetração e disseminação de outros microorganismos no periodonto se tornam maiores.

Na cavidade oral, os fungos geralmente povoam a língua, o palato e a mucosa, mas também podem colonizar as bolsas periodontais (SLOTS, 1988). RAMS (1991) detectou principalmente a presença de Candida nas bolsas periodontais de pacientes portadores de periodontite crônica, sugerindo a interação deste microorganismo na patogênese desta doença. Contudo, REYNAUD (2001) também relatou a presença de Candida em sítios periodontais saudáveis.

Rosa e colaboradores, recentemente descobriram que cepas periodontais de C. albicans aumentam a produção de determinadas enzimas hidrolíticas sob condições de anaerobiose, o que indica que a baixa concentração de oxigênio nas bolsas periodontais exerce influência na virulência atribuída a C. albicans. A liberação de proteinases pelos fungos parece promover a degradação de colágeno e de fibronectina resultando na destruição da matriz extracelular e da membrana basal

Um estudo realizado por MARTINS ET AL (2002) conseguiu isolar 31,82% do gênero Candida a partir da cavidade bucal, onde  7,95%  eram advindos de sítios de bolsas periodontais. Este mesmo trabalho também analisou que 75% das 28 cepas de C. albicans isoladas da cavidade bucal, produziram fosfolipase e 89,3% eram produtoras de proteinase. Por outro lado, 21,5% das amostras de C. albicans isoladas da cavidade bucal e 28,6% da bolsa periodontal apresentaram forte atividade fosfolipásica e proteinásica. Acreditando assim, que a produção destas enzimas no sulco gengival possa agir como fator secundário na patogenicidade da doença periodontal.

CONCLUSÃO

Dentre os estudos já realizados, podemos estabelecer uma breve relação entre a presença de fungos, principalmente os do gênero Candida, e em especial à espécie C. albicans, e o desenvolvimento da periodontite. Contudo, são necessários mais estudos para que se possa afirmar que exista uma relação de dependência e contribuição dos fungos no desenvolvimento e agravamento da doença periodontal.

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Referências

Ministério da Saúde. Projeto SB Brasil 2003: condições de saúde bucal da população brasileira 2002 – 2003: resultados principais/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

Ritchie CS, Joshipura K, Silliman RA, Miller B, Douglas CW. Oral health problems and significant weight loss among community-dwelling older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2000; 55: 366-71.

NEWMAN, M. G. et al. CARRANZA: PERIODONTIA CLÍNICA. 10.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

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Bruno Soares

Professor

 Santa Inês, MA

Sou cirurgião-dentista formado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) especialista em Ortodontia (UNINGÁ), com habilitação em Laserterapia (UNINGÁ) e pós em... Leia mais

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