Aumento Estético de Coroa Clínica para Tratamento da Erupção Passiva Alterada e Sorriso Gengival: Relato de Caso.

  Artigo, 27 de Set de 2018

INTRODUÇÃO

Em relação a periodontia dos últimos anos, maior atenção tem sido dada para manutenção não apenas da saúde, mas também da harmonia e simetria do contorno, arquitetura e coloração dos tecidos gengivais. Entre os problemas estéticos gengivais mais comuns estão as recessões gengivais, ausências de papilas interdentais, contorno gengival irregular e assimétrico e excessos gengivais sobre as superfícies dentais, que ocasionam a aparência de coroas clinicas curtas. 

A exposição excessiva da gengiva durante o sorriso, conhecida por sorriso gengival, associada a coroa clínica curta dos dentes anterossuperiores, pode resultar em problemas estéticos. O planejamento da técnica cirúrgica para posicionar a margem gengival apicalmente, sem expor a superfície radicular baseia-se na quantidade de gengiva queratinizada e na relação da junção cemento-esmalte com margem gengival e com a crista óssea alveolar.

Esta variação da morfologia habitual, envolvendo um periodonto mais coronal tem sido referida como Erupção Passiva Alterada (EPA) ou defeito na erupção passiva, uma alteração de desenvolvimento associada à fatores genéticos que acomete cerca de 12% da população adulta.

Tendo em vista tais alterações, Costet et al., em 1977(6), introduziram a classificação para EPA:

Tipo I: a margem gengival está incisal/oclusal à JCE, a dimensão de gengiva queratinizada é mais larga e as coroas são curtas.

Tipo II: a margem gengival está incisal/oclusal à JCE, a dimensão de gengiva queratinizada é mais curta e as coroas são curtas.

Subtipo A: a distância da crista óssea alveolar para a JCE é aproximadamente 1,5mm: nesses casos uma adesão normal pode ser encontrada.

Subtipo B: a crista óssea alveolar está no nível da JCE ou abaixo.

Vale ressaltar a importância do correto diagnóstico, classificação e do planejamento no tratamento da EPA. Pacientes subtipo B, necessariamente serão submetidos à osteotomias para o restabelecimento do espaço biológico. 

A colocação de braquetes ortodônticos influencia o acúmulo de biofilme e a colonização de bactérias, tornando o paciente mais propenso a inflamação e sangramento. Pazzini e cols. descobriram que o níquel pode influenciar reações inflamatórias durante o tratamento ortodôntico. Tais reações são caracterizadas por hiperplasia gengival, alterações na cor e sangramento gengival ao sondar. Mais do que um agente sensibilizador direto da pele e da mucosa, o níquel parece alterar o estado periodontal, agindo como um fator modificador da doença periodontal em pacientes sensíveis. Os resultados sugerem um efeito cumulativo do níquel durante o tratamento ortodôntico e que esse efeito está associado a anormalidades periodontais clinicamente significativas.

DESCRIÇÃO DO CASO 

A paciente C.M.S., sexo feminino, 21 anos, queixava-se de “mostrar muito as gengivas ao sorrir e de ter dentes curtos”. A paciente estava em fase final do tratamento ortodôntico. (fig 1). Foi orientada a retornar após a remoção do aparelho ortodôntico, quando recebeu profilaxia e polimento de todos os dentes, bem como foi instruída nas corretas técnicas de higiene oral. (fig 2) Nesse momento observou-se leve redução dos volumes gengivais porém, após avaliação clínica periodontal, ficou evidenciado que se tratava de uma EPA classificada como Tipo I – Subtipo B. 

O procedimento cirúrgico iniciou-se pela marcação da posição ideal do zênite gengival (porção mais apical da margem gengival), seguidas das incisões de bisel interno e intrasulculares para a perfeita remoção dos excessos gengivais (fig 3). Então, com uma sonda periodontal milimetrada, foi realizada a sondagem para avaliar a posição das cristas ósseas vestibulares.

Um retalho de espessura total foi elevado, evidenciando a quantidade de tecido ósseo invadindo o espaço biológico verticalmente. Também foi possível notar a presença de osso bastante espesso e presenças de exostoses, confirmando-se a necessidade de se realizar a osteotomia através de uma cirurgia à retalho elevado. (fig 4)

A osteotomia, foi realizada, inicialmente, reduzindo-se a espessura com instrumentos rotatórios e, em seguida, com a utilização de micro-cinzéis e curetas periodontais, foi delimitado o novo espaço biológico em arquitetura festonada. (fig 5)

O retalho foi corretamente reposicionado e estabilizado através de suturas suspensórias. A finalização do procedimento foi realizada com irrigação com solução fisiológica e compressão com gaze umedecida. (fig 6)

PROCEDIMENTOS PÓS-CIRURGICOS

A paciente foi orientada sobre os cuidados com a higienização pelo período de 2 semanas para que traumas fossem evitados. Além disso, foi prescrito bochecho suave com solução de clorexidina 0,12%, por 5 dias. A sutura foi removida em 7 dias de pós-operatório. Após 45 dias, pôde-se observar a total cicatrização e estabilização dos tecidos moles periodontais, bem como a satisfação da paciente com seu novo sorriso. (fig 7)

4. CONCLUSÃO

Com este caso clinico apresentado, pode-se concluir que a correta identificação da EPA, e a cirurgia selecionada adequada, leva a uma resolução correta e favorável, tanto biologicamente como esteticamente, deixando a paciente satisfeito e aumentando sua autoestima, por tornar seu rosto mais harmônico em relação aos dentes. 

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Renan Dalla

Ms. Implantes Dentários Espec. Periodontia

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Desde sua formação em 1997, sempre investiu em seu aperfeiçoamento profissional, participando de vários cursos e congressos nacionais e internacionais, nas áreas de... Leia mais

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